sábado, 31 de dezembro de 2005

2005

Ninguém aguenta mais retrospectivas, então vamos direto ao ponto: 2005 foi o melhor ano da minha vida. Terminei a faculdade, morei na França, saí de casa (por 4 meses), cresci muito, tornei-me mais eu mesmo, conheci muita gente, arranjei meu primeiro emprego de verdade, tornei-me chefe, me livrei de algumas pessoas malígnas, resolvi melhor outras, descobri que outras estão mais mal-resolvidas do que imagina. E, no final, o bolo ganhou a melhor cereja possível. Meio indigesta, mas a melhor.

Ampliando o foco, creio que esse ano foi o mais importante desta decada, para o Brasil e para o mundo. 2001 disse que as regras eram outras; 2005 ajudou a definir algumas delas. E já podemos ter a idéia da cara que esse decênio terá. Não ficarei aqui cagando regra. Cada um tire suas próprias conclusões.

"O que está fora de seu lugar/
Que você venha pra modificar/
Que você venha pra modificar..."
Pato Fu

Que 2006 seja tão intenso quanto.

Sexta-feira ao sol

Não é todo dia que você encontra um ator espanhol pegando jacaré. E não é todo dia mesmo que você encontra um dos melhores. Jarvier Bardem passou boa parte da sexta-feira na Prainha, acompanhado de uma dama e alguns amigos. Repete a dose de dois anos atrás (acho), quando também passou o reveillon por aqui. O que poucos sabem é que Bardem já morou em Búzios, antes de ser ator. Mesmo não sendo argentino.

Acima, um still dele e Johnny Depp no ótimo Before Night Falls, filme em que encarna o poeta cubano Renaldo Arenas. Quem quiser saber mais de Bardem, Segunda-Feira ao Sol, Mar Adentro, Entre las Piernas e alguns Almodóvar que não me recordo agora

sexta-feira, 30 de dezembro de 2005

Adolf


O fim de Buda se aproxima – a série terá 14 volumes – mas os órfãos de Osamu Tesuka não terão o que temer: a Conrad Editoria lança logo em seguida Adolf, mais uma obra do mestre.

Lançada em cinco volumes no Japão, a série começa nas Olimpíadas de 1936 e gira em torno de três personagens com o mesmo nome: Adolf Kaufmann, filho de um diplomata alemão com uma japonesa; Adolf Kamil, um judeu pobre, filho de padeiros; e Adolf Hitler.

Adolf Ni Tsugu, título original da série, foi um dos últimos trabalhos de Tesuka, que morreu em 1989. O mangá recebeu o prêmio Kodansha. Veja a capa da primeira edição italiana da obra.

Publicado orginalmente no Sobrecarga em 30/12/05

Boa Pedida! Minha temporada francesa não deixou que eu acompanhasse Buda - li só a primeira edição - mas, quem encarou, disse que valeu cada centavo e semana de espera. Como esse deverão ser só cinco volumes - na verdade, a Conrad ainda não informou se seguirá o padrão japonês - fica mais fácil de acompanhar.



quinta-feira, 29 de dezembro de 2005

Salve o verde

Isso já foi até tópico de comunidade no Orkut: há alguma coisa com os heróis verdes. Todos são, no mínimo, bacanas. Inclua na lista pesos-pesados como o Hulk, cults como o Besouro Verde ou pastiches como o Morcego Verde. Mas bacana é um termo diminuto para definir um dos personagens mais interessantes da DC Comics: o Lanterna Verde.

O personagem perambula no mundo dos quadrinhos desde a década de 1940, primeiro como Alan Scott e depois como “o maior de todos”, Hal Jordan (e em outras versões, mas fiquemos com as mais célebres). E, há quase 12 anos, foi vítima de uma iniciativa, no mínimo, ousada: foi transformado no maior vilão do universo, assassinou toda a Tropa dos Lanternas Verdes e teve seu manto passado para Kyle Rayner.

Os fãs não engoliram – nerds de quadrinhos podem ser mais reacionários que integrantes da TFP. Então, o roteirista Geoff Johns e o desenhista Ethan Van Sciver foram convocados para trazer ordem à casa em Lanterna Verde - Renascimento, minissérie em três partes que a Panini começa a publicar este mês.

Johns sabe fazer duas coisas muito bem: ir na essência do personagem e coletar material sobre o mesmo. O Jordan mostrado na mini é aquele de que todos que leram em Amanhecer Esmeralda gostam – mesmo com seus conflitos em agora ser o Espectro, uma das questões-chave de Renascimento. Diversas pontas soltas de décadas são puxadas e amarradas, reunindo personagens clássicos do Lanterna: Kilowog, Carol Ferris, Guy Gardner, entre outros. Nesse ponto, Renascimento lembra muito outra recente volta esverdeada, a do Arqueiro Verde, em O Espírito da Flecha - não por acaso, Oliver Queen também dá as caras na mini.

O traço de Sciver é bem detalhista, e o desenhista faz boas paisagens especiais, como se pode ver nas capas. Destaque para a sua forma de mostrar o Batman, todo em preto chapado, junto aos coloridos personagens da Liga da Justiça – parece até o Mancha Negra. O layout das páginas é bem inventivo sem ser confuso.

O gibi é inteligível mesmo para quem não lê uma história do Lanterna desde tempos pré-Crise, e um recordatório na primeira página mostra toda a lambança que fizeram com seus queridos personagens ao longo dos anos. Dá até para questionar se o que Johns está fazendo não é simplesmente deixar tudo como antes. A primeira edição, que compila duas da americana, termina em um ponto interessante, uma fresta nessa história toda em que ninguém tinha pensado antes.

Todos sabem como isso vai terminar, e depois Hal Jordan cairá na pasmaceira de um título mensal (se bem que Grant Morrison e Dave Gibbons já prometeram brincar com o personagem). Mas quem encarar Lanterna Verde - Renascimento lerá uma das melhores HQs de super-herói deste fim de ano.

Publicado originalmente no Sobrecarga em 26/12/05

quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

Cartão de Natal atrasado



Austrália

Natal costuma ser época de acontecimentos inusitados, e, na minha caixa de e-mail, bateram duas mensagens relativas a Austrália. A primeria é do Rafael, um amigo engenheiro de petróleo que foi transferido para Perth, no sudoeste australiano. É a capital de estado mais isolada do mundo: 2500 milhas de qualquer outra cidade. Segundo o cara, é mais perto ir para Cingapura do que para Sidney.

Muito por acaso, Perth também é a cidade de Anna, uma amiga aussie que atualmente faz intercâmbio em Aix-en-Provence, próximo a Marselha, sul da França. Vejam como a vida pode ser doce para uma anglo-australiana loura e linda de 2m, que deve ficar hospedada aqui em casa no segundo semestre.

Sem mais delongas, estou ficando com vontade de ir para o outro lado do mundo.


Falando sério, pela primeira vez vou passar Natal longe da
família, aqui na Austrália, postiço na família dos outros.
Vamos ver como vai ser.

A vida aqui promete ser boa, se eu souber entrar no ritmo
deles. Não tem trânsito, ou ao menos não tem aquilo que a
gente entende no Rio como trânsito por aqui. Terei a
chance de ir à pé para o trabalho, 15 minutos de
caminhada, como aliás está sendo nesse período em que
estou no hotel. Tem comida oriental de tudo que é tipo
para todos os lados, se você gosta ou quer descobrir, é o
paraíso. Espirrando, voa perdigoto em quatro loiras; tem
loira em todo canto, é o paraíso. Tem um sistema de
transporte público eficiente e, no centro da cidade, por
incrível que pareça, gratuito (não vi isso nem na
Alemanha); é o paraíso. Na praia tem banheiro público com
água quente e papel higiênico, é o paraíso. Tem uma cadeia
de cinemas no esquema estaçáo Botafogo, só de filmes
europeus e americanos de fora do circuitão, e outra de
blockbusters; da primeira, tem um Cinema Paradiso perto de
onde estou, é o paraíso. E aqui na Austrália não tem
Caetano Veloso nem Flamengo sob risco de ser rebaixado: é
o paraíso!!!

Hi everyone!

Sorry about the lack of emails! Thank you to everyone who has been
faithfully writing to me - I will eventually reply personally (boo to
everyone else). Hope you're all enjoying the festive spirit wherever you
are! (for all the non-Australians, yes we do celebrate Christmas Down Under,
it just involves more beer, beaches and barbeques and less fog and
frostbite).

Update on the last few weeks (forgotten when I last emailed): an hour after
my last class in Aix I left to Italy with Xandra. Went to the Cinque Terre,
5 tiny, colourful towns on the mountainside overlooking the Mediterranean
Sea joined by a hiking path through olive groves and vineyards - so
beautiful. Then Rome: we celebrated Hadrien's (another friend from Aix) 21st
birthday drinking champagne on the Campidoglio Hill overlooking the Roman
Forum and the Colosseum all lit up at night time - a night to remember! And
the weirdest thing happened at the Vatican: among the crowds of several tens
of thousands of people leaving after the Pope's Sunday address I heard
someone calling "Oi, Anna!" and it was Ducky!! (Friend from Perth) Such a
small world! Then we went to fair Verona and stayed in an old church then to
Venice, which is now my favourite city in the world. No matter how many
photos and movie scenes and documentaries you've seen, nothing can compare
you for the cruise down the Grand Canal past palaces and gondolas.

Then I flew to the UK and spent the weekend in the Lake District with Dad's
twin brother's family. We were supposed to do a 10km 'fun run' (for me these
words are a total contradiction) but I pulled out at the last minute due to
poor form (something to do with living on pizzas and wine and falling flat
on my face, or rather my knees, crushed under the weight of my backpack at
Verona train station. Haven't had bruises this bad since Rolladisco 2002). I
wasn't sorry when it ended up being -1 degree and snowing heavily during the
race. Though I did feel a bit lazy cheering on all my 50 year old aunties
and uncles.

Since then I have been staying with old aunties and uncles in Grange and
Edinburgh and seeing their grandchildren (my cousins' kids), which has been
really nice. I have been so well fed and taken care of for the first time in
months - spoilt rotten actually. I saw Michelle from Aix in Edinburgh and we
had haggis for lunch - despite all the bad rumours it is actually really
good!

So now I'm in Sheffield at Dad's twin's house for Christmas. I can't sleep
and it is after 2am and he is supposed to be waking me up for a run at
7.40am which will be great fun. So I will wish you all a merry Christmas and
all the best for 2006! Some of you I'll see next week back in Aix, others in
Perth (I'm back on Feb 22) and everyone else hopefully in the
not-too-distant future...

Good night!

Love Anna x

Obs.: Lima, não pedi sua autorização para publicar isso aqui. Espero que não dê em piti.

Obs 2.: Acho que a Anna nunca descobrirá. Espero.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2005

Que situação...



Como vocês sabem - ou saberão agora -, descolei uma maneira de compensar toda a opressão historicamente causada pela Igreja Católica(inclua aí desde a Inquisição até a Cataquese que fui obrigado a fazer, aos sábados de manhã, em Curitiba, muitas vezes aos 5 graus Célsius):

eles pagam o meu salário.

Porém, essa condição implica em situações limites. Semana passada, tinha que pegar uma foto para o jornal com a estagiária da Pastoral(rima involuntária). Tive que correr atrás da menina até o momento em que ela estivesse livre. O que me obrigou a participar, muito a contragosto, de uma novena de Natal.

Após muitas cantigas de Jesus nas alturas e salvação da Terra, a coordenadora da novena pediu para que os presentes tergiversassem sobre o significado da vinda do Salvador ao mundo.

Naquele silêncio constrangedor, minha mente divagou. O ponto em que cheguei é que, por mais insensível que o sujeito seja, qualquer um pensa duas vezes antes de fazer algo ofensivo ou, por falta de palavra melhor, ruim em uma noite de Natal.

Sei que há sempre ofensivas do Tet ou guerra do Yon Kippur para me contradizer, mas se o Natal garante pelo menos uma noite mais paz na Terra, ele já se justifica. Independente de religião (ou falte de).

Então, que todos vocês tenham uma noite de mais tranqüilidade e felicidade. Que Papai Noel, o velho batuta, seja bacana com vocês, e que, quando estiveram entediados na ceia do dia 24, pensem no South Park Especial de Natal que será exibido no Multishow, por volta das 21h.

Bjs e abraços,

Marcelo

Em tempo: pensei tudo isso, mas fiquei calado na novena. Queria mesmo que aquilo acabasse. Rápido...

E o balde voa longe


Os Produtores é um dos filmes mais grosseiros e sem noção do ano. E, exatamente por isso, um dos mais divertidos.

O tipo de coisas que dá esperança à terra do politicamente correto chamada Estados Unidos da América – mais exatamente, Hollywood. A refilmagem da obra de 1968 de Mel Brooks, produzida e roteirizada pelo próprio, desce muito bem numa época tão chata e “Noviça Rebelde” como o Natal. Isso, claro, se você comprar o que o filme propõe.

Os produtores do título são Leopold Bloom, encarnado em Mathew Broderick, e Max Bialystock, vivido por Nathan Lane. Alias, nem tanto. Ser um produtor da Broadway é o sonho do contador Bloom, o que acaba tornando-se realidade pela mente sórdida de Max. Ele planeja dar um golpe e fugir com o dinheiro do seguro após produzir o maior fracasso da história dos musicais, e acaba envolvendo Bloom. Para chegar aos seus fins, busca a pior peça de todos os tempos: Primavera para Hitler, a versão cantante e dançante da ascensão do Führer na Alemanha Nazista.

Broderick é um picareta. Canta, dança e atua mal. Logo, dá certo. Lane entende mais do riscado, e segura as pontas. Os dois participaram da versão teatral da Broadway, e já chegaram escolados, bem como boa parte do elenco. Das novas adições, Will Ferrell está exagerado como sempre, no papel do compositor neonazista Franz Liebkind. A seqüência em que entra em cena chega quase a incomodar. Mas, no andamento do filme, seu exagero acaba suprimido. E, para alegria dos meninos e inveja das meninas, Uma Thurman arrasa como Ulla, a sueca gostosa – “Deus salve a Suécia”. Excelente atriz, Uma não deve nada a ninguém, e pode se dar ao luxo de ser um bibelô, só dançando e cantando graciosamente pela tela.

Como se Nazismo não bastasse, Os Produtores cutuca ainda outros vespeiros. A seqüência em que Max e Bloom vão convocar diretor e equipe em um requintado loft no Upper East Side – leia-se, um antro gay – beira o surreal de tão divertido, com direito a ponta de um dos Fab Five de Queer Eye for the Straight Guy. Os mundinhos do cinema e teatro também tomam diversas alfinetadas. E sobra até para a visão estereotipada da América Latina, com um Rio de Janeiro cheio de muchachos carambas dançando mambo.

Mas o ponto alto é mesmo a apresentação de Primavera para Hitler. A diretora Susan Stroman pode até ser estreante na função, mas já participou como coreógrafa de diversos musicais – ninguém que já tenha dançado com Liza Minelli sai impune – e reproduziu exatamente tudo o que aprendeu. Os planos e enquadramentos são feitos à imagem e semelhança dos musicais da década de 1950, e funcionam muito bem. Inclui o plano superior com os dançarinos formando um símbolo – adivinhem qual?

Para aqueles que gostam de discutir quais os limites do humor, III Reich e Holocausto são bons tabus. E Os Produtores pode soar extremamente ofensivo. Mas, pensando que o filme foi escrito por um representante de um dos povos que mais sofreu na II Guerra – Mel Brooks é judeu –, pode-se divagar que uma das funções do humor é, justamente, ajudar na superação de grandes traumas.

E não saia da sala antes dos créditos acabarem.

Publicado originalmente no Sobrecarga em 22/12/05


sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

Bem mais que uma canção




Gente boa até não poder mais, Liô, vocalista do Som da Rua, morre em acidente de trânsito no Rio de Janeiro

No final de 2003, assistia a um show do Som da Rua, um dos primeiros como contratados da Deckdisc, no Teatro Odisséia. Leonardo Mariz, o Liô, se aproximou ao microfone no intervalo entre duas canções e anunciou: “Olha, não serei hipócrita, porque não conhecia o cara, mas não podemos deixar de lembrar o Tom Capone”. O produtor morrera poucos dias antes em um acidente com moto em Los Angeles.

Em uma mórbida ironia, Liô se foi na madrugada de 12 para 13 de dezembro, após ter seu carro prensado por um ônibus em Ipanema, no Rio de Janeiro. Também não conhecia o cara direito – no máximo, de “oi/tchau” quando o encontrava -, mas, sempre quando chegava, dava para perceber que Liô deixava as pessoas mais felizes.

O Som da Rua é uma banda que fez por merecer. Quem acompanha a agenda de shows do Rio de Janeiro já há algum tempo via sempre o nome da banda, se apresentando em vários cantos da cidade. Mas, principalmente, se destacam pela seriedade e pela qualidade. E pela brodagem com outras bandas da cidade.

Liô sempre aparecia em shows de outras bandas. Dava canjas, às vezes sem conhecer direito o outro grupo, só para dar uma força. O Som da Rua lançou seu primeiro álbum, Músicas para Violão e Guitarra, no ano passado. O single e clipe Só uma Canção teve boa penetração nas rádios e emissoras de TV. A banda já estava com várias apresentações agendadas para 2006, incluindo o Festival de Verão de Salvador. O último show do ano seria no mesmo Teatro Odisséia.

O baixista João Rodrigo, outro carregador de pedras da cena carioca, estava com Liô no momento da batida. Foi atendido no Hospital Miguel Couto e liberado no mesmo dia.

Publicado no Almanaque Virtual em 15/12/05