segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Bicicleta ao contrário

Onde eu vi a Dani ensinando o pai dela, de 66 anos, a usar o MSN.

De certa forma, me lembrou o meu pai me ensinando a andar de bicicleta sem rodinha.

Será que devo agradecer ao Bill Gates pelo momento de retribuição presenciado?

Fiuza, Johnny, drogas e a PUC

E o primeiro post do ano é uma reprodução.

Pelo menos, é uma reprodução de mim mesmo. Depois de assistir o
Meu Nome Não É Johnny, tive a idéia de ligar pro Fiuza pelo Comunique-se para falar sobre livro, filme e o próximo que ele estava escrevendo, que eu já tinha lido sobre na página do Ancelmo. O resultado taí abaixo, onde ele até fala do livro que virá depois.

Ele não disse a universidade onde foi o debate, mas depois disso aqui, dá pra deduzir.

Guilherme Fiuza fala de "Meu Nome Não é Johnny" e dos próximos livros

Desde o fim do NoMínimo, onde mantinha o canal Política & Cia, Guilherme Fiuza
estava fora da imprensa diária. Voltou no início do ano, mas como notícia: "Meu Nome Não é Johnny", filme baseado em seu livro homônimo, é o segundo mais visto no País, ganhou capa da Época desta semana e tem sido tema de debates por mostrar ascensão, queda e redenção de João Guilherme Estrella, traficante que abastecia a elite carioca com cocaína nas décadas de 1980 e 1990.

O livro, lançado em 2004 pela Editora Record, também ganhou nova edição, com pôster do filme na capa e fotos da produção, e tem ido muito bem. "A editora fez duas remessas de 10 mil exemplares. Cinco mil já form vendidos", informa o autor.

Fiuza acompanhou toda a produção do filme e se preparou para as discussões suscitadas, já escolado pelo livro. Também já engatilhou seu próximo projeto. "Juruá-Paris: uma Travessia Amazônica", que sai pela mesma editora no meio do ano, mostra como um negócio criado por empresários de Ipanema envolveu seringueiros do Acre que continuaram o legado de Chico Mendes e chegou até a França.

"Não é uma reportagem sócio-econômica com meio-ambiente. É um livro de aventura", avisa Fiuza. Tocados pelo assassinato de Mendes – que completa 20 anos –, os cariocas tentaram criar uma solução financeira para alguns dos envolvidos. Chegaram a ter contratos com a francesa Hermès para a distribuição de couro vegetal e alguns dos envolvidos foram condecorados pela ONU, mas outros tiveram falência pessoal decretada e sofreram ameaças de mortes.

O jornalista já conhecia a Amazônia e esteve duas vezes no Acre para a apuração. "Não dá pra salvar a Amazônia de Ipanema. O livro conta a história de pessoas de um centro urbano que têm que enfrentar a floresta, as distâncias enormes e sofrimento físico e emocional. Há somas astronômicas caindo na mão de tribos, que só entendiam de trocas rituais. É um livro focado nos personagens", detalha.

Traficante gente fina
A centralização do personagem também norteou o filme, principalmente a escolha da produtora Mariza Leão entre outras seis. "Não é uma história de tráfico, nem um filme de ação. É um olhar sobre o indivíduo, sobre a cabeça de uma pessoa. Como ele mergulhou no crime e como saiu de lá. Passou por tudo e voltou para a vida normal. A Mariza percebeu isso e, nesse ponto, a interpretação do Selton Mello capta bem o espírito", diz, sobre o ator que vive Estrella nas telas.

Fiuza colaborou informalmente com o roteiro – "várias pessoas que leram o livro me disseram que eu tinha um roteiro pronto na mão. Não é assim. É uma transposição muito difícil" – e da pesquisa junto à imprensa. O nome do livro/filme é derivado do Jornal do Brasil, que em 1995 deu meia página para a prisão do Marcinho VP e outra metade para a de Estrella, chamando-o de Johnny.

"Ele ficou indignado com aquilo. Nunca tinha sido chamado de Johnny. Era naturalmente um apelido dado pela polícia. De certa forma, eu vi aquilo como a boa índole se manifestando. Um grito de 'não sou bandido'", conta Fiuza.

O jornalista também ajudou a definir algumas linhas de pensamento nas discussões, que têm ocupado bastante espaço na sua agenda, dos atores e do diretor, Mauro Lima.

"Selton Mello e eu fomos a um debate em uma universidade carioca. No fim do filme, uma professora fez questão de vir nos dizer que 'não existe traficante gente fina'. Somos cobrados por dar uma glamorizada no tráfico. O que está faltando não é passar a mão na cabeça de traficante, mas conhecer o traficante. Saber quem ele é e como foi parar lá, até para poder resgatá-lo de lá", argumenta. "E o João Estrella, mesmo no alto do baronato, se mantinha no Baixo Gávea, Baixo Leblon… Só mostramos isso".

Tropa de Elite
Lançado pouco depois de "Tropa de Elite", "Meu Nome Não é Johnny" reacende algumas de suas discussões sobre tráfico, mas com um outro enfoque. "Ainda é um tema muito tabu, mesmo anos após a revolução de costumes dos anos 60, quando muitos pais de hoje conheceram as drogas. Aponta-se uma ligação intrínseca entre drogas e violência. O maconheiro se mistura com o bandido, enquanto o cervejeiro não", diz Fiuza.

"O 'Tropa' trouxe um aspecto sério para a discussão, o lado da polícia, e mostrou a responsabilidade do usuário. 'Johnny' veio dando o outro lado", continua. "Se você acha que o estudante da PUC [universidade carioca que serve de cenário à Tropa de Elite] é um idiota, que destrói a sociedade quando consome drogas, 'Johnny' mostra um pouco dos seus dramas, o drama da classe média. Não se pode só demonizar o sujeito. E preciso compreendê-lo".

Sobre a violência, Fiuza diz que João Estrella, mesmo tendo sido um megatraficante, nunca pegou em uma arma nem morava numa fortaleza. "Estamos em um bom momento de discussão. O filme completa o debate", afirma.

Futuro
Após "Juruá-Paris", Fiuza sabe o que fará: outro livro. Ele assinou contrato para a biografia de "um grande personagem brasileiro, morto recentemente". O nome do biografado ainda não pôde ser revelado.