segunda-feira, 7 de julho de 2008

Duas histórias do Grêmio

Eu gosto do Grêmio. Gosto mais do Inter, que me deu a oportunidade de gritar 'Barcelona timinho' da janela, mas também gosto do Grêmio. Gosto dessa identidade gaúcha meio castellana que o clube tem. Fora que um clube que venceu a Batalha dos Aflitos merece reverência. (Aliás, eu também gosto do Náutico, mas a fase não é boa na relação).

Li recentemente duas histórias do Grêmio - e do futebol brasileiro. Uma boa, com todo o gauchês incluso, contada pelo blogueiro do time no Globoesporte.com sobre o Renato Gaúcho - e olha que falar desse elemento para um botagouense é automaticamente lembrar do churrasco de 1992.

A segunda, bem pior, segue abaixo porque o blog do Juca Kfouri não tem permalink.

E gosto do Grêmio porque, segundo o grande gremista Marcelo Duhá, ele é freguês do Botafogo há séculos (apesar de quando ele diz isso eu lembrar de um 4x0 Grêmio em Porto Alegre bem no dia do meu aniversário).

O Cornudo Infiel, por Airton Gontow

Há muito pouco tempo Jardel, um dos maiores ídolos da história gremista, confessou, de forma comovente, que passou um longo período envolvido com drogas e pediu uma chance para jogar no Grêmio.

Queria uma oportunidade de retomar, no ocaso de sua carreira, uma trajetória vencedora.

Buscava ainda, visivelmente, como um filho, abrigo e conforto nos braços de quem o amava.

A torcida tricolor gaúcha ficou comovida e pediu sua contratação.

O caso repercutiu no País e todos esperaram pelas cenas do retorno de Jardel ao clube.

Mas o presidente Paulo Odone permaneceu impassível.

Ele, a diretoria de futebol e o técnico Celso Roth ficaram insensíveis ao drama vivido pelo artilheiro que tantas alegrias deu ao clube; ficaram indiferentes aos e-mails, telefonemas, pedidos na rua e manifestações no estádio.

Nem sequer consideraram a possibilidade, ainda, que remota, de se construir uma das mais belas e humanas histórias do futebol.

Agiram com pragmatismo.

Mas com um pragmatismo burro.

Até porque independente da recuperação do atleta, estava claro que o time ganharia a simpatia da opinião pública nacional, que a marca do patrocinador estaria nas manchetes de todos os meios de comunicação e que a torcida gremista responderia em massa, lotando ainda mais os estádios e até perdoando eventuais erros de Jardel, que poderia até entrar no segundo tempo dos jogos fáceis e já decididos.

Odone traiu o jogador que deu títulos ao clube.

Traiu os aficcionados que, como nenhum outro clube no País, têm dado exemplos de reverência a antigos ídolos, como nos jogos em que aplaudiram e cantaram hinos em homenagem a Renato Gaúcho e Danrlei, ainda que estes estivessem defendendo novas cores.

Mas o presidente não traiu apenas Jardel e os torcedores.

É uma história que se repete.

Perguntem a Sandro Goiano e Galatto, dois dos heróis da Batalha dos Aflitos, o que sentem sobre a maneira como foram negociados, sobre a falta de qualquer transparência e de qualquer homenagem ao que fizeram e ao que representam para o clube.

O agora ultrajado Paulo Odone nunca julgou nenhuma Proposta Indecente quando o dinheiro foi oferecido diretamente para o Grêmio.

Vendeu o jovem Carlos Eduardo (então com 20 anos de idade), por cerca de 8 milhões de euros para o Hoffenheim, da segunda divisão da Alemanha; o versátil e impetuoso Lucas (então com 20 anos) por 9 milhões de euros para o Liverpool; e o prodígio Anderson (então com 17 anos), por cerca de seis milhões de euros a um fundo de investimento português.

Por que então um jogador de 30 anos, com um vínculo de poucos meses com o clube, não negociaria a si mesmo por cinco milhões de dólares?

Claro que Roger deveria ter sido mais grato e honesto com o time que o recuperou para o futebol.

Mas é injustificável que Odone pose agora de marido corno, aquele que é o último a saber, estupefato depois que o mandaram "se Catar".

Particularmente fico mais indignado com a falta de competência da diretoria gremista em fazer um contrato que permitisse ao clube uma boa indenização no caso da saída do jogador (não aprenderam com o caso Ronaldinho?) e, principalmente, com a já citada recusa em abrigar Jardel (que esta semana acertou contrato com o Criciúma).

Indignação que cresce quando vemos o Grêmio receber de volta o jogador Tcheco, que sempre mostrou falta de futebol e responsabilidade nas horas decisivas, e o tosco centroavante que estava no Cruzeiro.

Não era o que a alma castelhana e brasileira da torcida gremista pedia.

Se o argentino ama Gardel, o gremista ama Jardel!

Que alegria, que alegria teria sido um gol, um único gol que fosse, de Jardel novamente com a camisa do Grêmio.

Sonho impossível quando, para o presidente Odone, Marcel é o limite!

*Airton Gontow, 46 anos, é jornalista e cronista.

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