- Fernando, você viu o Oliver Twist do Polanski?
- (Silêncio de 2 segundos) Tsc. O Polanski não tem capacidade de fazer Oliver Twist.
- Mas você não gosta do Polanski?
- Gosto sim. Gosto de muita coisa. E respeito as outras. Já entrevistei o puto.
- Sério!? Quando?
- Quando ele veio lançar o Chinatown. Foi uma entrevista que começou complicadíssima, mas acabei me safando.
- Como assim?
- Começou compliada um mês antes, quando eu tive que assinar um termo de compromisso que não perguntaria nada sobre a Sharon Tate. E o puto, após a morte dela, entrou em uma fase meio viadal: estava com uma roupinha ridícula, uma calça justíssima. Aquela figura bizarra, um homem baixinho com o cabeção enorme...
- Hum.
- Cheguei na suíte do Copacabana Palace acompanhado de uma amiga. Ele apontou e disse: "Com esta mulher, eu não dou a entrevista!". Pedi delicadamente para ela se sentar em um canto e fomos para a varanda. Eu tenso. Mas o uísque que a Paramount ofereceu aliviou a tensão. O Polanski estava na defensiva, mas fui ganhando o cara aos pouco. Primeiro porque falei dos filmes poloneses dele - ele não podia imaginar que eu tinha participado da Cinemateca do MAM - e depois contei que tinha sido um dos únicos a já ter visto o Chinatown.
- Como?
- Pedi uma cabine exclusiva.
- Tá.
- Aí o papo foi fluindo. Inclusive, com um momento em que tive que seguir a risca meus limites profissionais. Perguntei se colocar o John Huston no filme era uma forma de homenagear o cinema noir. E não é que o puto me responde que o cinema noir é francês, e não americano, e que o Huston tava lá só porque era bom ator. E emendou que O Falcão Maltês nem é lá essas coisas. Porra, O Falcão Maltês, porra! O Falcão Maltês!
- Ha.
- Mas, lá pelo quarto copo, ele decidiu inverter o jogo. Me perguntou qual era o meu filme preferido dos deles. Respondi A Dança dos Vampiros. "Impossível! Você não viu o meu filme! They butched my movie". Perguntei qual era o filme dele. "A versão de três horas". "Pois foi exatamente essa a que eu vi". O Brasil tinha sido um dos únicos que tinha visto a versão de três horas. E então, ele quase me derrubou da cadeira: "Aquele filme foi de uma época maravilhosa, porque foi quando eu e Sharon estávamos na nossa melhor fase". E ele descambou de falar da Sharon. Copiei tudo, e coloquei na matéria, com o fino toque final: "Mais do que isso, o repórter não pôde perguntar, por ter se comprometido".
- Boa!
- E o melhor veio no final. Fomos nos despedir e, na porta do elevador, ele pergunta: "Mas eu ainda não sei o que você achou do meu filme, o Chinatown?"
- E o que você respondeu.
- "Almost as good as The Maltese Falcon". O puto deu uma gargalhada estrondosa. "I diserved that", e ficou me mandando cartão de Natal por anos.
sábado, 23 de dezembro de 2006
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3 comentários:
histórias, histórias... heheh, muito a cara do fernando
bom natal!
Mario
Caralho...Q história foda!
Caracolis!
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