sexta-feira, 5 de maio de 2006

O Espião que me amava

J. J. Abrams é muito fã de 007. É tão fã que copiou a mesma estrutura inicial dos filmes do agente do MI6 para seu Missão: Impossível III, com uma cena-prévia antes da abertura. Só que a cena em que Ethan Hunt (Tom Cruise) participa nunca será mostrada em um filme de James Bond. O que evidencia o quanto M:I:III é diferente de outros filmes de espião que estão por aí.

Cruise pode ter ficado maluco, comido placenta e outras esquisitices. Mas, dentro da tela, ainda é uma das figuras mais interessantes de Hollywood. Mesmo sendo um ator ruim – ou justamente por isto – sabe agregar gente boa ao seu redor. O ator é um dos três pilares centrais de M:I:III, que conta ainda com belos adereços.

Abrams é outro ponto estrutural. Já mostrara serviço em suas séries de mais sucesso (Lost e Alias, se você ficou enclausurado nos últimos anos), o que garantiu o voto de confiança de Cruise para sua mega-franquia particular e o mais alto orçamento para um diretor estreante em longas, acima de US$ 150 milhões. Por mais clichê que a frase seja, ela se justifica: o diretor conduz o filme em um ritmo alucinante. Mesmo em seqüências mais “normais”, como a festa de noivado no início do filme, não deixa a peteca cair.

Ter uma festa de noivado é um dos trunfos do terceiro pilar: o bom roteiro de Alex Kurtzman e Roberto Orci, que humaniza os frios agentes secretos, para a tristeza de John Le Carré. Mais uma vez, Abrams se justifica como escolha certa – vide seu trabalho no “lado família” de Alias e em Felicity; Keri Russell, protagonista da última, mostra sua versão bad ass no filme. E resgate de princesa seqüestrada por vilão, o mote principal, é um clássico na trajetória do herói. Dá certo.

Outro ponto forte do roteiro são os diálogos, principalmente os destinados a dois grandes atores no elenco de apoio: o Morpheus Laurence Fishburne e o Capote Philip Seymour Hoffman. Fishburne, que vive o diretor da Impossible Mission Force, é o bom chefe ríspido. E Hoffman, pela primeira vez em um filme de ação, é mau, muito mau. Sem nenhum vacilo. E ponto. Complementando, Billy Crudup, de Quase Famosos, vive o supervisor de Hunt.

E, já que se trata de uma franquia, M:I:III paga tributo aos filmes anteriores e à série original: intriga internacional, Vaticano, máscaras perfeitas, Xangai e suspensão em cordas. E Abrams, que sabe filmar muito bem, empresta grande plasticidade às cenas – como a batalha de helicópteros em um campo eólico nos arredores de Berlim. Trunfo para o diretor de fotografia Dan Mindel.

Cruise trata sua franquia pessoal com muito carinho, trazendo um diretor diferente a cada cinco anos para imprimir suas características à série. Que ele faça uma próxima escolha cuidadosa; terá que superar um dos melhores filmes de espião dos últimos anos.

Publicado originalmente no Sobrecarga em 04/05/06.

Bom filme. Eu não me divertia tanto vendo um filme de espião desde A Identidade Bourne. Só que cheguei no Bourne achando que seria uma merda e me surpriendeu. Já em M:I:III é impossível não chegar cheio de espectativas.

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