terça-feira, 19 de setembro de 2006

Dinastia M

Todo estúdio de cinema de Hollywood tem uns dois ou três blockbusters na manga para salvar o seu ano. A estratégia já migrou para as duas grandes editoras de HQs dos Estados Unidos. Dinastia M, lançada pela Panini Comics, é o arrasa-quarteirão anual da Marvel, com uma série própria gerando ondas de choque para vários títulos mensais (Crise Infinita, o blockbuster da DC, estoura quando Dinastia M estiver acabando). E, como se tornou praxe na editora, tudo comandado por Brian Michael Bendis.

A história é uma continuação de Vingadores – A Queda. Caso o leitor desconheça o episódio, a Feiticeira Escarlate perdeu as estribeiras, matou alguns vingadores, desmontou o Visão, feriu muitos outros e explodiu a mansão. É mais ou menos assim que A Queda é descrita no pequeno recordatório no início da primeira edição.

Baixada a poeira, X-Men e Vingadores se reúnem para decidir o que fazer com Wanda Maximoff, que está sendo mantida em Genosha por seu pai, Magneto, e por Xavier. Quem não acompanha mais as séries regulares dos grupos pode até estranhar a presença de um ou outro personagem, ou o fato de Genosha, que era a metáfora mutante exagerada para a África do Sul do apartheid, ser hoje o vazio reino de Erik Lehsherr. Mas, em geral, tudo em Dinastia M é inteligível para quem não pega um gibi de heróis há tempos. Porque parece ser este o público-alvo da série.

Os editores podem não afirmar, mas Bendis escreve quadrinhos de heróis para quem estava por aí há 10 ou 20 anos. Os adolescentes que vão ler universo Ultimate, mangás ou ver os filmes. O trunfo de Dinastia M é resgatar o “clima festivo” de ver seus personagens preferidos todos juntos, com direito a quadros gigantes e páginas duplas no encontro deles. Para que você se sinta da mesma maneira que quando leu, sei lá, Ataques Atlantes. Pode-se discordar da estratégia, mas a primeira parte de Dinastia M – a edição brasileira reúne as duas primeiras americanas – foi a segunda HQ que mais vendeu ano passado nos EUA.

Voltando à revista em si, o pouco conhecido francês Olivier Coipel foi uma aposta arriscada da Marvel para os desenhos. Seu traço não tem muita identidade, porém garante alguns planos bonitos de Genosha esvaziada. Mas ele entende de narrativa, como fica provado na seqüência-solo do Homem-Aranha no final da primeira parte. E Bendis, que é macaco velho no mundo dos roteiros, sabe que nada é mais tenso do que confronto familiar. E reserva os melhores momentos da história para Magneto, Feiticeira e Mercúrio – acompanhados do agregado Xavier.

Na segunda parte, descamba-se para um grande O que aconteceria se… humanos fossem mutantes e mutantes fossem humanos. A trama vai se desenrolar nesse mundo alternativo, tendo o Wolverine como personagem de destaque e talvez caia um pouco. Mas, como qualquer blockbuster, venderá muito e atrairá a devida atenção. Missão cumprida.

Dinastia M 1 tem formato americano, 56 páginas em papel LWC no miolo e custa R$ 5,90. A revista está disponível em duas capas alternativas de Essad Ribic.

Publicado no Sobrecarga em 18/09/06.

Parafraseando Michael Corleone em Chefão III, quanto mais eu tento parar de ler essas merda de super-herói, mas elas me puxam de volta.

Um comentário:

Guilardo disse...

Comprei, li e gostei bastante. Vamos ver no que dá. abraço!