sábado, 18 de fevereiro de 2006

Fora de Rumo

Cantada barata

Na primeira parte de Fora de Rumo, Clive Owen e Jennifer Aniston iniciam uma conversa sedutora.

Aniston: "Que tipo de nome é Schine (sobrenome do personagem de Owen)? Judeu?"
Owen: "Rabínico. Mas sou filho de mãe católica. Tenho todos os tipos de culpa..."

O tipo de frase canalha e engraçadinha, lançada para enrolar uma mulher. Mais ou menos o que Fora do Rumo tenta fazer: enrolar o espectador. Só que a cantada é muito barata.

Charles Schine é um homem estagnado profissionalmente, com um casamento morno e uma filha doente. Até que conhece a economista Lucinda Harris (Aniston), também casada e meio frustrada, no trem que pega diariamente para Chicago. Carne nova no pedaço parece ser o que os dois precisam. O relato do affair é enfadonho, mas entretém. Até que o filme dá uma virada, e se você espera alguma surpresa de Fora do Rumo, pare de ler por aqui.

Philippe de LaRoche, personagem de Vincent Cassel, interrompe um momento íntimo do casal para um assalto. Espanca Schine. E estupra Lucinda. Como se não bastasse, segue fazendo chantagem sobre o publicitário.

Pode até parecer uma premissa interessante, mas não funciona. Os golpes armados por LaRoche são muito pueris. As armações têm buracos maiores que os cadáveres do filme. Você olha aquilo e pensa que não pode ser sério.

Outro problema são as atuações inconstantes. De um lado, Owen, que sempre dá nuances diversas aos seus tipos, e, em menor grau, Cassel, que é bom ator, mas que está caricato demais como o bandido francês. Do outro estremo, os rappers salada de letras Xbizit e RZA, que vivem eles mesmos. E, exatamente no meio, Jennifer Aniston, mais sóbria – até pelos cabelos mais escuros -, se livrando do ar apatetado de Rachel, mas que não tem a dualidade do personagem. E o filme tenta pegar leve com ela no final.

A enrolação podia até funcionar melhor, se a história não começasse em uma prisão. Você fica sempre se perguntando: “Ok, quando é que vai dar m...?”. O roteiro, baseado no romance de James Siegel, é bem preguiçoso. E o diretor sueco Mikael Håfström estréia em Hollywood com um trabalho bem água com açúcar.

Na medida em que o tempo vai passando, o filme vai descambando cada vez mais. Empurrado pela obviedade.

Publicado originalmente no Sobrecarga em 14/02/06

Para quem está com preguiça de ler: o filme é horrível.

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