
A Balada do Mar Salgado é a primeira aventura de Corto Maltese. É também o primeiro álbum que a bem-vinda Pixel Media lança para singrar no mercado brasileiro de quadrinhos. Chegaram com banca: além da bela escolha para a estréia, prometeram acabamento de luxo, preços honestos e um tratamento diferenciado ao leitor brasileiro de quadrinhos, que já foi muito esculachado.
Sem papo de pescador: A Balada... - que já tinha saído por aqui no longínquo 1983, pela LP&M - tem toda a pompa necessária. Formato igual aos originais europeus – até na Itália já lançaram versões reduzidas, para baratear –, impressão clara, papel brilhoso de qualidade e dois artigos, bem semelhantes, onde ficamos sabendo que Corto já ganhou biografia em romance, que Pratt vem da mesma cidade que Fellini e que Hector Babenco já pensou em levar o personagem para o cinema.
No melhor estilo “meninos, eu vi”, o grande diferencial de Pratt é a representação dos cenários, que conheceu pessoalmente, e complementava com pesquisas. Nutria uma simpatia especial pelo Pacífico Sul, local que escolheu para inaugurar Corto Maltese. As práticas e culturas dos povos estão ali, bem como a arquitetura, as embarcações e os tipos humanos. Uma verdadeira viagem, no sentido clássico do termo. Um National Geographic sem ser enfadonho.
Pratt faz as diversas luzes do dia no preto-e-branco chapado do nanquim – coisa de quem já ficou muito ao ar livre e entende bastante de lápis. A diagramação das páginas é bem regular – salvo um boca-a-boca inventivo no final do álbum – mas o autor alterna super-closes com imagens distantes – principalmente nas ações passadas no convés. Seu traço, que explora as texturas – os transados de palha típicos–, ficaria ainda melhor depois.
A trama é um tanto quanto irregular; parece que você pegou o barco andando. Os personagens são meio jogados, para serem descobertos ao longo do álbum (ou não). Há algumas coincidências demais, compensadas pela amplitude de assuntos tratados – que vão desde detalhes técnicos sobre pirogas até a geopolítica da época e autodeterminação dos povos polinésios. E Corto Maltese parece aquele seu novo grande amigo: bacana, e que vai demonstrando sua complexidade ao longo do tempo.
Se Una Ballata del Mare Salato - no título original – ganha quatro raios, a Pixel fica com cinco por entrar tão bem em um mercado que, aos trancos, vai amadurecendo (compare a quantidade de lançamentos de hoje com cinco anos atrás). E, na concorrência com outras editoras que já vêm fazendo um trabalho legal, quem fica na maré mansa é o leitor.
A Balada do Mar Salgado tem 180 páginas e preço sugerido de R$ 33. Um preview pode ser baixado no site da Pixel.
Publicado originalmente no Sobrecarga em 23/02/06.
Mal posso esperar pelos próximos álbuns. Corto Maltese é um prazer.
Na pesquisa, esbarrei com esta boa crítica do UHQ, da edição antiga do mesmo álbum. Capa horrenda. E, olha só, Ed Motta compôs uma Balada do Mar Salgado para o Dwtza, um de seus discos esquisitões. Não gostei. Não acho que traduza o clima da história. Tire as suas conclusões na Rádio UOL.
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