sábado, 18 de fevereiro de 2006

Stoned

Como um Rolling Stone. Mas da pior maneira

Os Rolling Stones se apresentam somente em uma noite no Brasil, mas parecem que já estão aqui, e em todos os lugares. Chegam também aos cinemas. Stoned – A História Secreta dos Rolling Stones (Stoned, 2005) é, na verdade, a história de somente um deles: Brian Jones, o doidaraço guitarrista original da banda, encontrado morto na piscina de sua mansão dias após ter sido desligado do grupo, em 1969.


A música pop não seria a mesma sem suas lendas, e o mito de Jones é tópico de discussão há décadas entre os fãs dos Stones. O laudo oficial indica morte por afogamento após ingestão pesada de álcool e drogas – e, sendo Jones quem era, uma possibilidade deveras plausível. Porém, há versões que o louro foi assassinado. Até a CIA entra na parada. E é em cima de uma delas que Stoned trabalha.


O filme é centrado nos últimos três meses da vida de Jones (Leo Gregory, bem parecido, e com bom figurino), e na estranha relação que desenvolveu com o empreiteiro Frank Thorogood (Paddy Considine, o alter-ego de Jim Sheridan em In America), responsável pela reforma de sua casa. Praticante do amor livre, legítimo representante da época em que sexo, drogas e rock’n’roll não eram uma falácia, Jones causa fascinação e asco em Thorogood. O construtor machão, que perdeu um olho lutando pela Rainha em guerra, não sabe se o ama, o odeia ou se quer sê-lo. E Stoned transforma os últimos dias de Brian Jones em O Talentoso Ripley. Previsível, no mínimo.


Os poucos pontos altos do filme são os flashbacks do início dos Stones e do relacionamento de Jones com Anita (Monet Mazur), sua namorada ítalo-alemã monumental, depois surrupiada por Keith Richards (Ben Whishaw). Os outros Stones mal aparecem, e quando o fazem, fazem mal. Mick Jagger (Luke de Woolfson) é nulo. A cena da demissão de Jones é constrangedora, ainda mais com o clipe musical logo em seguida.


A música incidental é piegas, dando uma atmosfera de dramalhão. A trilha sonora é composta pelos blues que influenciaram Jones, sem músicas dos Stones – que não devem ter liberado os direitos. A direção de Stephen Wooley (estreante como diretor, mas experiente como produtor, já tendo no currículo outra biografia de banda, Os Cinco Rapazes de Liverpool) é retrograda. Parece da época em que a banda estava explodindo. Stoned parece um Rolling Stone, mas pelos motivos errados: quer parecer moderno, mas a embalagem é antiquada.


Só falta agora filmarem a transfusão de 100% do sangue de Keith Richards.

Publicado originalmente no Almanaque Virtual em 16/02/06.


Pra quem está com preguiça de ler: outro filme horrível. Como transformam a vida do Brian Jones nisso? E eu preciso selecionar melhor minhas cabines. Pelo menos, o cartaz é legal.

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