sexta-feira, 31 de março de 2006

Lovecraft

Criatura maior que o criador

Lovecraft
, que a Devir lançou na última Bienal Internacional do Livro de São Paulo, tem prefácio escrito por John Carpenter, cineasta responsável por clássicos como Fuga de Nova York, Aventureiros do Bairro Proibido e outros filmes em que Kurt Russel desce o braço. Não por acaso. Carpenter faria misérias com a história de Lovecraft – e, não por acaso 2, a história foi escrita por Hans Rodionoff, um dos seus roteiristas auxiliares.

A obra bate mais uma vez na tecla da maior criação de H. P. Lovecraft, o Necronomicon. Maior criação porque extrapolou as obras do escritor: já apareceu em contos de outros autores, nos filmes da série Uma Noite Alucinante, nos games de Alone in the Dark e nas letras de diversas bandas de metal – saiba mais lendo aqui. A sacada de Lovecraft foi jogar a criatura para a vida do criador: H. P. tornar-se o portador do Necronomicon, o que fundamenta a sua carreira literária e inferniza a sua vida.

Já que Rodionoff era inexperiente em quadrinhos, um sujeito tarimbado adaptou o roteiro para arte seqüencial: Keith Giffen, o criador do Lobo. Para as tintas, o argentino Enrique Breccia
foi uma escolha bem acurada. Alterna o traço a lápis mais certinho para os momentos de “vida real” com aquarelas bem delirantes para os “sonhos” de H. P. Tem talento para criar bichos esquisitos – talvez herança de sua passagem peloMonstro do Pântano – e sua maneira de desenhar todo mundo com cara de assustado combina bem com a história. A edição bem cuidada da Devir, em papel couché no miolo, colabora.

Como personagem, H. P. é bem interessante e inseguro, assombrado pela sua admiração por Edgar Allan Poe. A ambiance da Nova Iorque do início do século XX é agradável, com a participação de vários sujeitos malditos na época, e hoje cultuados, como Harry Holdini (que também foi escritor) e Robert E. Howard. Uma boa palha sobre a formação editorial dos Estados Unidos, e como esses sujeitos tinham que ralar por uma miséria.

Após o início poderoso, a trama cai e flui meio arrastada, pesadona. E um pouco previsível. No final, uma sugestão desagradaria em cheio os fãs do escritor. Mas fica só na sugestão. Falando nos fãs, as muitas referências fazem a sua festa, e só a deles (e talvez aos fãs do Batman, que descobrem de onde saiu o nome Asilo Arkham). Lovecraft acaba sendo uma obra para iniciados na magia negra de Lovecraft. O que não é pouco, mas não é para todos.

Texto originalmente publicado no Sobrecarga em 27/03/06

Um comentário:

Guilardo disse...

Putz vi essa HQ na Saraiva e quase comprei... só que tava mó cara, 39 conto...

Me amarro no Lovecraft, se abaixar esse preço quem sabe eu compro

abraço!