domingo, 26 de março de 2006

Santana enguiça

Carlos Santana é uma fênix. Resgatado do ostracismo pelo produtor Clive Davis – que teve a idéia para a fórmula guitarrista mexicano + astro pop no álbum Supernatural, de 1999 – retornou às paradas de sucesso com um dos discos mais vendidos daquele ano. Mas, sobre um palco, Santana celebra outra ave: a pomba. Branca e simbolizando a paz, ela aparece diversas vezes ao longo da noite acompanhada de uma grande ladainha ecumênica que se espalhou pela Praça da Apoteose, no último sábado.

OK, pode ser um preço a se pagar para assistir um dos sobreviventes do Woodstock. Mas, infelizmente, esse tipo de discurso não foi o único elemento modorrento da apresentação. A qualidade e a criatividade de Santana estão acima de qualquer suspeita. Mas, com 40 anos de carreira, já devia ter sacado como fazer um show mais ágil, melhor amarrado – e menos morno.


A disparidade entre a fase atual e o passado de Santana poderia atrapalhar. Não foi. O set-list equilibrava sucessos recentes com música antigas. E uma das maiores dúvidas na nova geração de fãs foi seguramente respondida: Andy Vargas, cantor que acompanha a turnê, é versátil o suficiente para substituir os convidados que não puderam comparecer. Bem fiel em Maria, Maria. E se sai melhor que Rob Thomas em Smooth.


Vargas integra uma banda responsa de nove músicos, com destaque para o baterista Dennis Chambers e o baixista Benny Rietueld – tanto que os dois ganham um momento solo no palco, em que Rietueld tocou uma inesperada versão de Romaria, de Renato Teixeira, mais conhecida na voz de Elis Regina. Foi a segunda canção brasileira da noite: pouco tempo antes, Santana já tinha encaixado trechos de Aquarela do Brasil no meio de Samba pa ti.


Bom, se a banda é boa e o repertório eficiente, o problema está no astro principal? Parece blasfêmia, mas sim. A mistura de guitarra com salsa e ritmos caribenhos envelheceu mal. Os solos, tirando um ou outro, são longos e cansativos. Parece discurso de líder latino-americano.

Não que não tenha tido pontos altos. Soul Sacifice – cuja apresentação no Woodstock aparece no documentário que ganhou o Oscar – foi uma das mais rápidas. Oye como Va, do rei do mambo Tito Puente, pôs todos para se mexer, e contou com fraseados de Owner of Lonely Heart, do Yes, e Sunshine of your Love, do Cream, para alegria dos coroas. Black Magic Woman veio misturada com Gypsy Queen. E, para fechar, a sacaninha Evil Ways.


Set List:


1 – Jingo

2 – I am Somebody

3 – Love of my Live

4 – Africa Bamba

5 – Victory is Won

6 – Concerto/ Maria, Maria

7 – Foo Foo

8 – Samba pa Ti

9 – Batuka/No one to Depend on

10 – Incident at Neshabur

11 – Wishing It Was

12 – Spiritual/ Yaleo

13 – Solo de bateria e baixo

14 – Black Magic Woman / Gypsy Queen


Bis


15 – Soul Sacrifice

16 – Smooth/Dame tu Amor

17 – Corazón Espinado

18 – Evil Ways

Publicado originalmente no Almanaque Virtual em 19/03/06

You got to tell me your evil ways, baby...

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