domingo, 16 de abril de 2006

Ladrão da Eternidade

Cliver Barker escrevendo para crianças. Clive Barker, o sujeito que criou o Pinhead – o cara cheio de espinhos de Hellraiser -, escreve livros aterrorizantes e já inspirou quadrinhos perturbadores, produzindo algo para crianças. Foi mais ou menos assim que The Thief of Always foi recebido em 1992, quando foi lançado. O livro, escrito e ilustrado por Barker, nunca foi lançado no Brasil. Mas sua versão em quadrinhos, O Ladrão da Eternidade, chega agora via Pixel Media, após ter saído ano passado nos Estados Unidos.

Barker usa uma velha artimanha: escreve algo supostamente para crianças, mas que agradará mesmo aos mais velhos (vale lembrar que a HQ em nenhum momento se define como infantil, tanto aqui quanto lá fora). A história parece O Mágico de Oz, só que contada pelo Marilyn Manson: o menino Harvey Swick está entediado com fevereiro (o equivalente do hemisfério norte ao nosso agosto: volta de férias, ainda com meio ano de aulas e sem feriados. Pelo menos é mais curto) e conhece um sujeitinho estranho que o apresenta à Casa de Férias do Senhor Hood. As quatro estações do ano acontecem todos os dias na casa, assim como Helloween e Natal. A única condição é que Harvey nunca a deixe.

A premissa pode parecer um pouco batida, mas o texto de Barker e o ritmo criado por Kris Oprisko – responsável pela adaptação do roteiro – salvam. A partir do momento em que Harvey descobre que algo ali é muito estranho, a trama fica bem assustadora e claustrofóbica. Cai no final, com um embate meio nada fora do comum e um epílogo apressado. Os personagens são carismáticos e bem delineados, mesmo seguindo os estereótipos clássicos para a identificação infantil. A melancólica Lulu clama por solidariedade. E Harvey, se fosse para Hogwarts, transformaria Harry Potter no segundo da turma facilmente.

Tudo ficaria bem aquém com um desenhista chinfrim. O que está longe de ser o caso de Gabriel Hernandez. O artista usa sua experiência como ilustrador de livros infantis para criar o clima etéreo que a história pede. Traduz diferentes atmosferas com os sombreados. E “bolou” o design dos personagens de Barker bem ao gosto do autor – principalmente os mais bizarros.

A capa da edição brasileira é semelhante ao encadernado da IDW Publishing, que lançou a história nos EUA dividida em três partes – e com imagens de rosto mais bonitas. O álbum da Pixel traz um artigo sobre Barker escrito pelo crítico Rodrigo Fonseca, uma entrevista com o escritor e um sketchbook comentado por Hernandez.

Tim Burton deve adorar.

O Ladrão da Eternidade tem 148 páginas em papel couché, capa cartonada e custa R$ 33.

Publicado originalmente no Sobrecarga em 10/04/06.

Quase que esqueço de colocar isso aqui.

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