segunda-feira, 3 de abril de 2006

Pequenos Milagres

I believe in miracles/ I believe in a better world for me and you

Will Eisner conta sempre a mesma história. E, quando não conta a mesma história, vai à mesma fonte, com os mesmos elementos. Isto não é ruim, muito pelo contrário. É incrível a capacidade de Eisner de revirar sua Nova Iorque do passado e tirar dali novas narrativas. Pequenos Milagres, último álbum lançado do mestre pela Devir, volta à sua infância nos quarteirões judeus da Big Apple do início do século XX. Com alguns milagres a mais.

Os milagres são uma desculpa de Eisner. Desculpa para misturar causos da vizinhança com histórias da tradição oral judaica – os meinzas, como explica em seu belo prefácio. Com simplicidade, não se preocupa em diferenciá-los.

Pequenos Milagres
traz quatro contos, que variam em tamanho e grau de inocência. Enquanto Mágica de Rua ocupa poucas páginas para mostrar uma pequena malandragem, O Anel de Casamento se espraia por quase metade do álbum para contar uma melancólica história de amor, com personagens secundários revelando as nuances do bairro – tipos italianos mesclados com os judeus; o “Vale das Sombras”. E Um novo garoto no quarteirão transporta para a metrópole o antigo conto alemão de Caspar Hauser.

As páginas em sépia não utilizam separações entre os quadros (em sua maioria). A história flui fácil – analisar o storytelling de Eisner é covardia – com um ar de nostalgia bem vinda. A capa do álbum é um amalgama das histórias – e, único escorregão da edição, não é muito nítida. Pequenos Milagres foi lançado originalmente em 2000, dentro de uma série de trabalhos para a DC Comics.

Quatro simples e belas histórias de Will Eisner. Como se precisasse de mais.


Pequenos Milagres
tem formato 25x19 cm, capa cartonada com aplicação de verniz, 110 páginas e custa R$ 27.

Publicado originalmente no Sobrecarga em 03/04/06.


Nada como juntar Will Eisner com Ramones.

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