Nos anos 1980, o Fluminense complicava bastante a vida dos seus adversários através dos atacantes Assis e Washington. Pela sintonia, os dois jogadores acabaram recebendo o apelido de Casal 20 em alusão ao seriado de TV. Washington e Assis funcionavam independentes, mas os dois se conheciam há tanto tempo (desde o Atlético-PR) que se completavam. O rendimento de um favorecia o outro, e vice versa.
É mais ou menos a mesma coisa com Steve Niles e Ben Templesmith. Dono de um estilo de ilustração que, ao mesmo tempo, parece caótico, mas com elementos facilmente identificáveis, o australiano Templesmith vagava pelas beiradas do mercado americano de quadrinhos, trabalhando em séries como Star Wars e Buffy, a Caça-Vampiros. Fã de detetives e filmes de horror, Niles era um roteirista amador e balconista profissional com passagens por companhias como Disney e o estúdio de Todd McFarlane. Até que, em 2002, os dois fizeram 30 Dias de Noite.
A história dos vampiros deu um novo fôlego às HQs de horror nos EUA. E um grande empurrão na carreira de ambos. A arte sombria de Templesmith fluía perfeitamente com as histórias tenebrosas de Niles. Só que a porção detetivesca do roteirista não estava sendo atendida. É aí que surgem Cal McDonald e Crimes Macabros.
Como explica Niles no posfácio da edição lançada pela Pixel Media, McDonald era um personagem que já o acompanhava há um tempo, sempre em contos policiais com um clima noir. Um dia, só para ver como ficava, Niles colocou um lobisomem na história. E McDonald passou a agradar todas suas facetas.
Foi o diferencial. McDonald segue bem na risca a cartilha dos detetives anti-heróis: bebe e fuma adoidado, tem um comportamento longe do exemplar, passa por cima de jurisdições e procedimentos, narra em off alguns trechos da trama, que se passa em Los Angeles. Até mesmo o desprezo com que encara os seres malditos não é muito novo, remetendo a um outro inspetor do sobrenatural dos quadrinhos. Diferente mesmo são as criaturas: os vampiros de Niles não são charmosos. Eles não são metáforas para nada. São somente monstros e são felizes assim.
E, nesse sentido, são muito favorecidos pela representação inumana feita por Templesmith: quando atacam, parecem tubarões, com os dentes projetados. Característica semelhante têm os lobisomens do artista. São rabiscos peludos, quase disformes. Todos favorecidos pela ambientação soturna; Templesmith praticamente só usa preto e variações de cinza e sépia. E verde para os zumbis.
Crimes Macabros mostra uma estranha aliança entre vampiros e lobisomens (seres que só se relacionam bem em desenhos do Scooby Doo) para cometer crimes atípicos. A trama vai até a Idade Média e culmina em uma luta de classes monstruosa. Não é muito inovador, mas entretém. De inusitado, a forma como Niles mostra os zumbis como coringas, se dividindo entre os lados da guerra. E todos inteligentes. Nada de “mioooolos”.
O álbum traz ainda uma boa história extra de McDonald em uma Las Vegas escura, além de biografia dos autores e uma introdução por Rob Zombie. Crimes Macabros tem chances de ser transformado em filme, com Thomas Jane (protagonista de Justiceiro, e velho chapa de Niles) encabeçando o elenco. Só espero que não transfiram a história de Los Angeles para Londres, como fizeram com o outro.
Crimes Macabros tem formato 17x26 cm, 180 páginas e preço sugerido de R$ 34,90. Alguns trechos da história podem ser lidos aqui.
Publicado no Sobrecarga em 11/10/06.
Isso aqui ainda é um blog de cultura pop. E esse texto é minha homenagem aos tricolores sobre dias melhores.
quinta-feira, 12 de outubro de 2006
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